A GREVE DOS CAMINHONEIROS É O QUE PARECE? UMA CORTINA QUE ENCOBRE UM NOVO ATAQUE A DEMOCRACIA
Ontem em todos os canais da TV aberta, no início da noite, ministros davam entrevistas divulgando um suposto sucesso das negociações com os diversos representantes da categoria.
Pura ilusão.
Mesmo com acordo, caminhoneiros mantêm protestos nas rodovias federais.
E essa greve não foi uma greve conduzida por agentes sociais de esquerda. O Ministro da Justiça, o naturalmente sempre equivocado Raul Jungmann, desta vez acertou quando disse que o movimento era um locaute, uma corruptela da palavra inglesa “lockout”, que na compreensão popularizada costuma significar greve de patrões.
Só que se os setores da esquerda não dirigiram a paralisação, a direita pode ter atiçado um formigueiro que já está fugindo ao seu controle. Aliás, essa tem sido a característica dos resultados de todas as ações do golpe de 2016.
Criaram um tigre no quintal dos fundos.
E enfim, começa a se desenhar o que muitos analistas, incluindo eu mesmo, vinham prevendo desde o golpe contra Dilma Rousseff.
A consolidação do acordo entre o PMDB na época e atual MDB e o mesmo PSDB de sempre, para a gestão pós-golpe. Cujo acordo não se discute abertamente na imprensa, nas colunas políticas ou nos corredores de Brasília.
De cujo acordo só se tratou na mais absoluta encolha dos gabinetes e encontros domiciliares ou almoços reclusos em hotéis de locais altamente exclusivos.
Mas, que mesmo com essa característica rasputínica, o assunto está presente nas reuniões de cúpula, nas conversas de pé de ouvido e nas conversas de botequim, com aspones, jornalistas, funcionários público ou até mesmo cidadãos comuns em posse de informações privilegiadas.
Um acordo que previa a queda de Dilma, a posse de Temer e depois a convocação de eleições indiretas para que um nome do PSDB assumisse o Planalto, consolidando em tese, as qualificações do PSDB e partidos aliados para o enfrentamento das eleições deste ano.
Mas...como se diz aqui no Nordeste, o acordo deu águia.
Temer se apegou o cargo, inclusive cogitando ser candidato, condição que desistiu oficialmente à partir de ontem, 24/05 ao apresentar Meirelles como o candidato do MDB.
Por esse motivo, já há algum tempo existe uma guerra não declarada entre os próprios atores do golpe de 2016. O PSDB e o DEM vem sabotando o governo em todas as suas votações mais importantes no Congresso.
E como não colocar Pedro Parente, o presidente da Petrobrás nessa contenda golpista?
Primeiro vamos analisar os fatos que culminaram na greve dos caminhoneiros do todo o país.
A primeira vista o “grande” executivo tucano Pedro Parente geriu a Petrobras preocupado apenas em proteger a empresa e seus acionistas das variações do preço do petróleo no mercado internacional. Isso oficialmente, na mídia e mesmo de sua própria assessoria.
Descolado de qualquer projeto de nação vindo da gestão Temer, se é que isso existiu em algum momento, Parente deu uma banana ao país e repassou para os operadores e consumidores as variações dos preços, sem qualquer responsabilidade, planejamento ou estratégia.
E com os preços aumentando muito em intervalos muito curtos, uma brutal instabilidade tomou conta do mercado de combustíveis e transportes, gerando forte impacto na economia.
Mas será que era só isso mesmo? (Claro que isso não tem nada de pouca coisa)
Insisto, estas ações de Pedro Parente são absolutamente de mercado e não há nada de objetivos políticos? Isso não lembra nada a ninguém?
O golpe dentro do golpe...
Um golpe militar hoje pode-se tornar uma possível realidade, à partir do estrangulamento das instituições públicas e privadas e que possam provocar a paralisação do país.
Mas nestes turbulentos eventos provocados pela direita burguesa, nem tudo é só tragédia. Por aí se abrem caminhos auspiciosos para o enfrentamento de classes pelo qual o Brasil está passando.
E o caminho da esquerda nesse primeiro momento é exigir a legitimidade social do movimento, com a clareza de que o fundamental é buscar a união de classes contra o cenário que vier, inclusive se for o adiamento das eleições ou coisa pior.
A maior lição disso tudo é que a união de vários e grandes movimentos unitários se consegue algo bom, ou seja, grandes e reais possibilidades de chegar-se a um lugar satisfatório.
O movimento dos caminhoneiros já mostrou que, sendo locaute ou greve, não é relevante de primeira mão sua origem, assim como todos os outras categorias fortes de trabalhadores, mas se agir como um só corpo, conseguirão parar o Brasil e serão ouvidos pelo governo e pelo mundo.
Toda crise é iniciada a partir de fatos concretos. O resultado que se vai conquistar depende do desenrolar dos acontecimentos e da atitude dos atores e dos interesses em jogo.
Infelizmente, a direita brasileira se mostra muito mais mobilizada e organizada do que a esquerda.
Ou a esquerda brasileira acorda ou a segunda parte do golpe será fragorosamente concluída.
O golpe dentro do golpe.
Eu digo que num cenário destes, a primeira e inadiável coisa é arrancar Lula da cadeia.
No momento é o único político com estatura de estadista, capaz de unir o Brasil, defender a soberania e preservar nossas riquezas e tudo isso com o apoio de esmagadora maioria da comunidade internacional, que adora ver uma derrota do Departamento de Estado norte-americano.
O que será assunto de uma próxima matéria.